
Três grandes filmes em 2008 anunciaram o fim do mundo.
O Nevoeiro de Frank Darabont, Fim dos Tempos de M. Night Shyamalan e Diários dos Mortos de George A. Romero.
Frank Darabont investiu menos nos “monstros” e mais na reação do homem frente ao desconhecido. Darabont deflagra, então, uma dialética discussão entre fé e razão e os fundamentalismos das duas partes.
O assustador em O Nevoeiro é aquilo que não vemos, aquilo que está em nossa imaginação, trata-se, pois do medo original pois a formação desses temores partem mais do anseio do público do que das imagens na tela. Para Darabont, o fim do mundo é a própria estupidez humana.
Já o filme Fim dos Tempos tivemos a oportunidade de debatermos a fundo em uma das sessões do Cineclube. O filme tem tantas questões, tantas variantes que merece um comentário por si só. Volto à ele outro dia. Mas cabe uma questão: duvido que o (improvável) fim do mundo real seja tão bem filmado.
Diário dos Mortos é o quinto filme de George A. Romero sobre os Mortos-Vivos que ele começou com A Noite dos Mortos Vivos.
E o que são os mortos-vivos nos filmes de Romero? Eu diria que são um subterfúgio, um miasma. São sobras que ali estão somente para nos distrair. O que Romero quer mesmo dizer são outras coisas:
Quer nos falar de racismo e de intolerância. Quer falar em como o ser humano age ao se deparar com os seus mais profundos e inenarráveis medos. Quer falar da precariedade de humanismo e de boas ações quando o homem tem que lutar pela sobrevivência. Quer falar de política e da falência das instituições. Quer falar de fé e ausência da fé. Quer falar de manipulação, e de mentiras.
Como disse em uma das suas entrevistas: “Se eu tivesse que sintetizar em uma só frase, seria "fiquem mais espertos". O maior problema, a meu ver, hoje é o público. As pessoas não se incomodam em fazer sua lição de casa. Elas simplesmente não sabem separar as coisas - acreditam em tudo o que ouvem nas suas "caixas", sejam elas quais forem. As pessoas têm que ficar mais espertas. Continuam mandando seu dinheiro a tele-evangelistas, continuam votando em idiotas”.
Há uma constante em Diário dos Mortos que nos diz muito de nossa contemporaneidade: a fixação pela imagem. E Diário dos mortos sublinha a cada segundo a crise da imagem que vivemos. E de imagem podemos entender verdade. E de verdade podemos entender a ética. Diário dos mortos problematiza tudo isso: a ética da verdade, a verdade da imagem, a ética da imagem. A dado momento o filme nos coloca “antes eram apenas três verdades as quais poderíamos confiar e agora que são 400 mil, em quem confiar?”, pois se décadas atrás éramos dominados por três ou quatro grandes canais de comunicação, o que fazer quando todo mundo com o seu celular, a sua câmera digital, seu laptop resolve também contar a sua verdade?
E escrever neste blog também não seria isso? poder também contar outras verdades.
Diário dos Mortos vê um mundo conectado em que quanto mais as pessoas participam, maior a possibilidade de vencermos os monstros que nos assombram: sejam eles zumbis, políticos ou bandidos.
George A. Romero é um gênio, um dos grandes diretores vivos. Talvez, mais do que gênio, George A. Romero é necessário.
Romero encerra o filme com uma grande questão, uma das maiores de nossa existência. Uma câmera, um livro, um quadro, uma máquina fotográfica tudo isso não seria senão um diário? Ou melhor, não seria um diário dos mortos, visto que seria a única forma de perenizarmos nossa permanência no mundo?
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