segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Maysa, Monjardim e a Paixão


Maysa - Quando Fala o Coração é mais cinematográfico que Olga. Maysa é um produto para a TV, Olga se diz cinema. Posto isso, nos cabe avaliar alguns porquês? Olga não interessava em nada ao seu diretor Jayme Monjardim. Nem tema, nem época, nem linguagem. Filmou-a para os outros, os outros comuns. Olga é uma vontade de público, não uma necessidade de artista. Pode-se discutir e muito se Monjardim é ou não um artista, mas o fato é que Olga sofria da maior temeridade de um filme: a falta de paixão.

Maysa ao contrário é pulsante, dilacerante. Quer dizer alguma coisa, e diz. Todo artista somente deveria dar conta das sua maiores paixões (frustradas ou não). Pela primeira vez Monjardim nos dá a impressão de ter prazer no material que filma. Seria impossível a ele escapar de qualquer envolvimento emocional com o tema, afinal trata-se da biografia de sua mãe, mas não é isso que move a graça da obra. Ao querer contar esta história (a qual foi testemunha ocular) Monjardim fugiu da narrativa óbvia, dos enquadramentos fáceis, da dramaturgia solene. Contar uma história é torná-la jamais sonhada (em cores, em movimentos, em ritmo, em imagens). Maysa é despudorada, excessiva, intensa, em suma tem todos os ingredientes que a afastam de um melodrama, daí a necessidade de levar o filme em outra chave, outro ritmo. Godard e Coppola são exemplos de cineastas que perpassaram pelos mais diferentes temas/histórias/contextos e ainda assim sempre produziram grandes filmes, pois tudo os interessava, tudo pra eles era paixão. E dessa(s) paixão(ões) revolucionaram o cinema.

O primeiro capítulo de Maysa foi dos mais interessantes. Monjardim foi muito feliz em algumas escolhas: Larissa Maciel tem a irreverência que Maysa precisa. O elenco formado por atores desconhecidos e muito talentosos. Affonso Beato na fotografia, que faz da maioria dos planos, uma urgência visual.

Em Maysa o texto de Manoel Carlos não parece um texto de Manoel Carlos, o que é um grande avanço. De História de Amor à Páginas da vida não havia diferença substancial entre as tramas, afinal Maneco não podia mudar o gosto do(a) espectador(a). Dava ao público o que ele queria. (Eis a morte da Arte: dar ao público o que ele quer).

E que Maysa seja uma mudança de rota na obra de Monjardim, Manoel Carlos e (não custa sonhar) da própria Rede Globo.

6 comentários:

  1. Sem dúvida alguma, o que mais chama a atenção nessa minissérie é a intensa pulsação exalada por Maysa, que nos é apresentada com propriedade por Larissa Maciel. Esta é uma das principais características que singulariza "Maysa", ao distanciá-la do corriqueiro, e garante sua artisticidade. É nesta medida exata de oscilação entre o real e o ficcional, bem dosada por Manoel e Monjardim, que se encontra a arte. Em "Maysa" não somente é possível ver imageticamente, mas também sentir este pulsar do coração, que cria o ritmo da minissérie e fala, poeticamente...
    Ainda que em minúsculas partículas (diante de toda a potencialidade da rede), sim, a emissora está evoluindo artístico-culturalmente.
    Seu texto, Caríssimo, faz emergir uma questão interessantíssima acerca do “ideal de arte” (se é possível assim se referir aos procedimentos que garantem o caráter artístico a determinadas obras). É de suma importância pensar a respeito do espaço e da valorização da "arte pela arte" e da "arte por encomenda". A artisticidade termina quando se inicia a comercialização???...

    Ótimo texto, Caríssimo. Parabéns pelo blog!
    Bjinhoss, Ronice Kelmis*

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  2. "E eu com tanta dor/sentimentos, vou ter que cantar a dor alheia?"
    Alma de artista.
    Obra de artista.
    Olhar que sucumbe e faz a gente se sentir um pouco artista também.

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  4. Acredito que a Globo produz novelas em série, feitas milimetricamente para agradar ao público. Tudo já está pronto em suas tramas, cujo formato está extremamente gasto.
    Em Maysa, acredito que haja outra intenção. A obra de arte encontra lugar no modo de contar uma história já conhecida, veja-se, conhecemos a história, não o modelo pré-fabricado e tão gasto de narrativa. Parece-me que em Maysa temos o ritmo da vida e das canções a nos embalar num entrelaçamento apaixonante que nos torna expectadores, platéia, parceiros em diálogo com a poesia do texto de Manoel Carlos, que desta vez livrou-se das amarras...

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  6. Olá tudo bem?
    Seu blog está lindo me add?
    comenta no meu
    Beijos

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